Reitor Rangel Junior fala sobre os 49 anos da UEPB e destaca reconquista da autonomia como meta para os próximos anos

No aniversário de 49 anos de fundação da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a serem completados neste domingo, 15 de março, o reitor Rangel Junior relembrou momentos históricos da Instituição, destacou sua importância para o desenvolvimento da Paraíba e do Nordeste e ressaltou que a redefinição da Lei de Autonomia é a alternativa para garantir estabilidade para a Instituição poder voltar a planejar e executar ações fundamentais para o seu desenvolvimento e progresso da Paraíba. Confira abaixo a entrevista na íntegra.

CODECOM - A UEPB completa 49 anos neste dia 15 de março. Na sua opinião, qual a importância da UEPB para o povo paraibano?

Rangel Junior - A Universidade certamente formou muito mais que 49 mil profissionais nesses 49 anos. Na última década principalmente, a gente vem formando por ano mais de duas mil pessoas. Só isso, já é um fator que destaca a UEPB na história mais recente da Paraíba. Logicamente, que a Universidade nasceu em Campina Grande, mas há 28 anos foi estadualizada e essa estadualização não foi apenas no sentido de ela passar a ser uma universidade pública estadual, mas ela teve de fato a possibilidade de se expandir para todo Estado, tendo em vista que antes ela era uma universidade restrita a Campina Grande e a uma Escola Agrícola em Lagoa Seca. Então essa dimensão de universidade do estado, espalhada para todas as regiões da Paraíba, foi de fato uma grande mudança na Instituição, além de outra dimensão que é o caráter de ser uma universidade regional, que atende estudantes de todo o Nordeste e de outras partes do país. Da Bahia ao Maranhão temos um histórico de muitos profissionais que se formaram na UEPB. Ela nasceu como Universidade Regional do Nordeste, mas de fato passou a ser mais regional ainda quando passou a ser estadualizada.

CODECOM - Entre os momentos históricos vivenciados pela UEPB, qual o senhor destaca como o mais importante?

RJ – Eu registraria primeiro a sua criação de fato, porque ela já foi criada como desdobramento de uma fundação, a FUNDACT, que era uma fundação para apoio e desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, que tinha sido criada em 1954. Doze anos depois, essa fundação foi transformada em Fundação Regional do Nordeste e criou-se a Universidade. Ou seja, Campina Grande tomou essa iniciativa como uma cidade sintonizada com seu tempo, com o desenvolvimento da época, onde começavam a ser criadas no país essas estruturas. E Campina Grande acompanhou isso. Criou sua própria universidade, municipal até então. Para mim, esse ato é verdadeiramente o grande marco, o ato de fundação. Posteriormente, a Estadualização, em 1987, é o segundo grande momento da sua história e redefine os rumos da Instituição. A partir daí como instituição pública e gratuita, porque antes ela tinha uma peculiaridade privada. Apenas depois da Estadualização, foi que se tornou totalmente gratuita, custeada pelo Estado. Daí em diante, do ponto de vista institucional, tem outro marco, que é o reconhecimento da Universidade pelo MEC e esse reconhecimento foi muito importante, porque a UEPB passou a ter capacidade de emitir seus próprios diplomas, de certificar as atividades que ela poderia desenvolver. Ate então, os diplomas que ela emitia eram certificados pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Depois vem outro grande momento, em 2004, quando é conquistada uma lei que define um marco regulatório para o exercício de sua autonomia financeira.

CODECOM – Como o senhor imagina que teria sido o ensino superior paraibano nesses últimos 49 anos se não existisse a UEPB?

RJ - Creio que seria uma lacuna muito grande, porque a capacidade que a Universidade desenvolveu ao longo de todos esses anos, de formar quadros profissionais para a Paraíba, é muito grande. É quase impossível ter uma única cidade da Paraíba que não tenha pelo menos um profissional de Educação, por exemplo, formado pela UEPB. Imagine a lacuna que haveria somente nessa área se não houvesse uma instituição desse porte. Isso foi possível graças à visão de futuro daquelas pessoas que lá na década de 1950 e 1960 já percebiam a importância do ensino superior para o desenvolvimento do Estado.

CODECOM - A história da UEPB é marcada por grandes lutas. Atualmente, a Instituição enfrenta mais uma, que diz respeito à perda de sua Autonomia. Como a UEPB está enfrentando esse momento e como o senhor acha que ela vai sair dessa situação de crise?

RJ - O que identificamos na conjuntura atual é que o melhor momento da vida da Universidade foi quando ela começou a ter capacidade de se planejar e executar políticas com autonomia. Foi um divisor de águas a Universidade antes e depois da autonomia financeira. Ao longo de seis anos após esta conquista, a Universidade trabalhou muito bem e depois mais dois anos já começou a enfrentar alguma dificuldade. Hoje, chegamos a um ponto de retorno a uma situação anterior à autonomia, onde a Universidade não tem uma capacidade de execução de políticas como ela tinha no tempo áureo do exercício da sua autonomia, dentre os anos de 2005 e 2010. Porém, a leitura que faço hoje é que a única saída possível para um momento de nova experiência ou de fortalecimento daquela experiência anterior é uma redefinição desse marco regulatório da autonomia da Universidade e isso somente pode acontecer com uma nova lei que traduza com clareza e muita limpidez de interpretação quais são os parâmetros que devem ser utilizados para definição orçamentária e quais os direitos e as competências da Universidade no uso desses recursos. Porque, definido isso, vinculado um percentual para a receita corrente liquida do estado, evitando que cada governo que chegue faça sua interpretação de uma lei e queira redefini-la, seria possível dar uma estabilidade muito grande a Instituição. Nosso grande problema atual é a instabilidade financeira para poder planejar ações e continuar realizando ações que a UEPB iniciou quando gozava da condição de autonomia e que, ao perder, teve que recuar nos seus projetos e conter sua capacidade de crescimento, de desenvolvimento, de implementação de políticas, voltando a viver uma situação anterior a 2004, quando tudo e todas as necessidades da Instituição tinham que ser pedidas ao governante do momento. Então essa situação, de fato, é muito ruim e a situação anterior é aquela que todas as universidades públicas estaduais desejam, que olham para a UEPB do período de 2005 a 2010 como um modelo a ser seguido e tentam nos seus estados implementar uma legislação que possa, se protegendo dessas alterações, implantar políticas nos moldes do que implantamos nesse período.

CODECOM - O que esperar da UEPB para os próximos 49 anos?

RJ – Espero estar aqui para assistir. A UEPB tem apenas três anos a menos que eu, mas eu acredito que as universidades tem uma capacidade muito grande de se perpetuarem na história. São 800 anos de história de uma instituição que nasceu na Idade Média e que já passou por grandes mudanças no modelo, na forma de fazer, mas conserva requisitos importantes da sua natureza, daquilo que deu origem a instituição universitária, principalmente no que diz respeito ao sentido de devoção ao livre pensar, a criação, a descoberta cientifica, fora do dogmatismo. A universidade no mundo se adapta aos novos tempos e vai buscando evolução. A nossa universidade dará passos importantes na sua consolidação como instituição pública, principalmente nessa conquista de modelo de universidade autônoma e que possa contribuir mais no desenvolvimento do seu povo. Criar condições para que ela tenha capacidade de executar aquilo que dá sentido a sua existência, que é ser voltada ao conhecimento, para a questão da preservação e difusão cultural, é o que de fato vamos conquistar e acho que não demora mais 49 anos para isso não.

CODECOM - O que a UEPB representa na sua vida?

RJ - Vivo o cotidiano da universidade há 34 anos, desde a época de estudante até hoje. Quase dois terços da minha vida já foram vividos na UEPB. Então, para mim é uma relação muito intensa de vínculo que não é somente profissional ou político, mas é também afetivo. E percebo que isso não é só para mim, mas para todas as pessoas que passam pela Universidade Estadual da Paraíba. Esse vínculo em mim se fortaleceu muito, porque fui estudante, sou professor e meu contato coma vida política da Universidade, desde como estudante e depois como professor, fortaleceu mais ainda esse laço, com um compromisso ético, político, profissional, mas acima de tudo sentimental. A UEPB representa tudo isso para mim.

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Fonte: iParaiba com Codecom