Jorge Vercillo elogia Caminhos do Frio, mas critica indústria de músicas enlatadas

Atração principal da noite deste sábado na rota cultural Caminhos do Frio, o cantor e compositor Jorge Vercillo se desmanchou em elogios ao projeto, pelo qual relata ter sido surpreendido positivamente. No entanto, o artista aproveita a ocasião para reclamar da inércia do povo brasileiro ao aceitar a imposição do que ele classifica como "música enlatada", cuja indústria domina a mídia no país.

Vercillo conquistou a simpatia dos jornalistas que, por gentileza dele, tiveram a oportunidade de trocar informações e conhecer um artista que foi considerado "intelectualmente por estar acima de média". O cantor se apresentou na noite deste sábado em Solânea, mas antes deu vários recados, entre eles, a admiração pelos projetos culturais como o Caminhos do Frio, que permitem que a população em qualquer canto do Brasil, seja nas grandes cidades, seja em cidadezinhas do interior e até mesmo em fronteiras como no Araguaia, possa conhecer a sua arte.

O artista deixou claro que o Caminhos do Frio o surpreendeu de forma muito positiva, resultado de um projeto que foi abraçado pela cidade (Solânea) e que a região demonstra completo respeito com os artistas, oferecendo estrutura, simpatia, carinho e, acima de tudo, respeito à arte de quem quer que seja o artista.

“Precisamos cultuar a diversidade musical e esse festival tem essa essência de apresentar os artistas em praça pública, para o povo conhecer e assistir”, pontuou. Antes do show, numa entrevista bastante descontraída, Vercillo se mostrou um personagem da música popular brasileira com senso crítico ao que vem ocorrendo na cultura nacional, mas, principalmente, na indústria radiofônica, que mistura verdadeiras obras de arte com enlatados e canções que, segundo ele, maculam a imagem de nossa cultura. Não que não haja espaço para as duas coisas, mas o artista não entende como a nossa sociedade fica muda ao ver determinadas situações que poderiam ser evitadas ou ao menos combatidas.

Na opinião de Vercillo, as músicas enlatadas, compostas sem conteúdo, estão deixando a população surda. Mais do que isso, ele avalia que elas estão deixando à margem do mercado artistas que já contribuíram com o crescimento de nossa arte, com canções emblemáticas, mas que estão distantes do grande público a cada dia, deixando a sociedade sem memória, sem boa arte. Não são apenas músicas sem conteúdo, de apelo popular e sem mensagens, é a indústria de dinheiro fácil, que muitas vezes até seleciona o público pelo preço cobrado.

Vercillo afirmou, ainda, que os festivais de cultura, como o Caminhos do Frio, fazem parte da própria proposta dele como artista, de se apresentar em lugares distantes, muitas vezes sem qualquer tipo de estrutura, mas levando a sua arte, mostrando a sua mensagem. “Os artistas precisam arregaçar as mangas e sair das áreas de conforto. Temos a necessidade de sermos ouvidos pelas novas gerações. Faço dos meus shows pelo interior do Brasil uma cruzada, a maioria das vezes ganhando menos dinheiro, mas não deixando de apresentar uma arte diferenciada, que fica distante das grandes massas radiofônicas”, disse.

Para ampliar a sua música, a sua arte, Vercillo disse que tem vendido suas músicas pela internet. Todo mês ele compõe uma música diferente, coloca na internet e vai selecionando o trabalho para produzido um DVD ou CD para colocar no mercado. Segundo o artista, essa medida é uma forma de combater a pirataria que tem minado o mercado de vendas de DVDS e CDs. “Trabalho e gravo dessa forma pelo aspecto financeiro. A venda e CDs, DVDs no País está caindo, não o gravado nos estúdios (com grandes investimentos), mas os piratas estão tomando o nosso mercado, quase sempre com músicas de baixíssima qualidade”. Nesse aspecto, Vercillo conta que em um desses shows dele pelo interior do Brasil (em Triunfo-PE) ele viu um ambulante oferecendo um DVD pirata dele durante a apresentação. Na mesma hora, parou de cantar e denunciou o crime, mas ninguém, muito menos dois policiais que estavam do lado do ambulante, expressaram qualquer tipo de reação.

O artista comentou que o País saiu de uma ditadura militar, conquistou liberdade de expressão, mas tem exercido pouco essa nova experiência, de reclamar, de criticar, de instigar ações contra o que está errado. “As pessoas precisam reagir. Há liberdade de expressão, mas que não tem sido exercida pela sociedade”. Durante o show, para uma plateia completamente entrosada com o artista, fazendo coro em todas as suas músicas, das novas até as mais conhecidas, Vercillo ocupou parte dele para fazer uma mensagem em favor da natureza. Ainda na entrevista, o artista que mora no Rio de Janeiro, denunciou que a Cidade Maravilha está sendo violentada pelos poderes públicos e que as pessoas estão com medo de ir às ruas, mas se mantêm caladas. No entanto, das músicas de seu repertório na apresentação em Solânea, não se ouviu nenhuma canção de protesto. O artista preferiu apenas embalar os sonhos e os corações dos apaixonados.


Fonte: Turismo em Foco

Fotos: festvaledivulgacoes.blogspot.com

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